Números distorcidos: quando os dados sobre sinistros de trânsito enganam mais do que informam 4z5k61

Recentemente, diversos veículos de comunicação divulgaram os dados do Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal (PRF), revelando que, em 2024, mais de 6 mil pessoas morreram e cerca de 84 mil ficaram feridas em sinistros de trânsito. No entanto, um detalhe importante ou despercebido ou foi omitido em algumas reportagens: esses números se referem exclusivamente às rodovias federais.
É comum que estatísticas divulgadas com destaque na imprensa acabem sendo interpretadas como um retrato fiel do trânsito em todo o país. Mas, nesse caso, os dados sobre sinistros da PRF abrangem apenas uma parte da malha viária nacional — as rodovias federais, que somam pouco mais de 75 mil quilômetros, de um total superior a 1,7 milhão de quilômetros de vias no Brasil.
Esse tipo de confusão pode gerar uma falsa percepção de melhora (ou piora) no cenário nacional. n5564
Afinal, o Brasil registra, em média, mais de 30 mil mortes por ano no trânsito, considerando todas as vias: federais, estaduais e municipais. Reduzir essa realidade a pouco mais de 6 mil mortes dá a entender que o problema é menor do que realmente é — o que pode comprometer políticas públicas e a mobilização social por mais segurança viária.
De acordo com Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, o uso correto e transparente dos dados é fundamental para que a população compreenda a gravidade do problema e para o planejamento de ações eficazes. “Erros de interpretação ou divulgação incompleta, ainda que não intencionais, têm impacto direto na forma como a sociedade percebe os riscos e cobra soluções”, explica.
Ele diz ainda que entender de onde vêm os números é tão importante quanto os números em si.
“Afinal, quando o assunto é trânsito, cada estatística representa vidas que se perderam — e outras tantas que podem ser salvas com informação clara, ações preventivas e políticas sérias”, conclui.